Chamado de “pai do liberalismo”, o filósofo escocês John Locke (1632-1704), acadêmico de Oxford no Século XVII, ponto de partida de todos os outros teóricos liberais, sejam eles da Política ou da Economia, escreveu tratados sobre a liberdade do indivíduo em relação ao Estado e à Igreja. No famoso texto Letter Concerning Toleration, por exemplo, está seu apelo à separação entre a política e a religião, muito conveniente nos dias de hoje. Sua base epistemológica (e existencial) do papel do conhecimento (e da liberdade) para o desenvolvimento humano está no clássico Concerning Human Understanding. E seus princípios fundamentais de economia política, em The Second Treatise of Government. A contribuição absolutamente simples, genial e transformadora de John Locke, que o coloca no rol dos cânones ocidentais, reside na transformação da liberdade em um “direito político”, que torna todos os cidadãos iguais – todos, vale repetir, todos têm direito à liberdade. Foi só a partir desse ponto que Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), posteriormente, puderam desenvolver suas noções de “liberdade econômica”. Nesse sentido, vale dizer, liberais que apóiam Bolsonaro em busca de liberalismo econômico não são de fato liberais, traem os princípios mais básicos do liberalismo - a igualdade do direto à liberdade. Não existe liberalismo econômico sem liberalismo político. O liberalismo político é um pressuposto do liberalismo econômico e não há qualquer autor clássico liberal que tenha defendido o liberalismo econômico fora do contexto do liberalismo político. Temo que esse seja mais um elemento bizarro da nossa cultura política (como foi também a convivência entre liberalismo e escravidão) originado na falta de paciência da elite brasileira em pagar o preço da democracia. A democracia é cara, é vagarosa, é ineficiente. Não tenho dúvida, (no sistema capitalista) nós pagamos para ser livres. Para completar, somos uma democracia recente, com instituições recentes, o que torna ainda maior o custo da liberdade. A pergunta é: está nossa elite comprometida o suficiente com os ideais democráticos de modo a pagar o preço de uma democracia recente? Ao que parece, não, mas "liberal" só para o mercado não vale. Liberdade apenas para o mercado não é liberalismo, é tecnocracia.