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  • Arthur Ituassu

Potencial desperdiçado


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Sites dos três principais candidatos à Presidência limitam-se a biografias, marketing e diretrizes gerais de governo.

Ao menos desde as eleições presidenciais de 2010, está claro que a Web se tornou um espaço fundamental do embate político no Brasil, e este ano a briga promete ser feia. A disputa mal começou e os candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves tiveram problemas no comando de suas campanhas na internet, com a saída do coordenador Xico Graziano, no front tucano, e a desvinculação da página dirigida por Franklin Martins, no âmbito petista.

O embate no ambiente online, no entanto, não é só do interesse das campanhas. Pesquisadores no campo da democracia digital também olham com cuidado para as múltiplas formas nas quais se apresenta a disputa eleitoral na Web. Por um lado, pode-se aferir sobre novos recursos e a eficiência da comunicação política desenvolvida, de modo a perceber as linguagens que são privilegiadas e bem-sucedidas no meio. Por outro lado, e principalmente, analisa-se o quanto as campanhas na internet trazem de contribuição para os campos da informação e transparência das próprias campanhas, da participação cidadã nas mesmas e da deliberação sobre os temas da política nacional.

Nesse terreno mais amplo, de contribuição à democracia, os sites dos três principais candidatos à Presidência – Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos – deixam muito a desejar, preferindo a ênfase tradicional em relatos biográficos de promoção política, marketing e diretrizes gerais de futuro governo.

O primeiro deles, de Dilma Rousseff, é basicamente um repositório de "notícias" produzidas pela campanha e compartilhadas nas redes sociais, com um link para o "Programa de Governo", um documento (pdf) de 42 páginas onde estão os feitos das Presidências Lula e Dilma e as propostas para o quarto mandato petista. O site diz que é possível "enviar a sua ideia" para o programa, mas por enquanto o recurso não parece disponível. Entre os três sites, o da presidente é o que contém mais detalhadamente as propostas de governo.

Para cadastrar um email e receber atualizações da campanha, é preciso ir, acredite, até o pé da página, que se move na medida que o site resgata notícias do passado, como numa timeline. Com isso, o usuário às vezes pode se ver numa perseguição nonsense, tentando acertar o box onde cadastrar seu email antes que ele se mova.

A página de Aécio Neves tem como mote a "mudança" e investe muito na ideia: "Conheça Aécio". Há na página um mecanismo bastante limitado de participação, o "Participe", que tem por base a expressão: "Fale o que você quer para o Brasil!". O cidadão manda um cartaz, foto ou vídeo para o email "queromeubrasil@aecioneves.com.br" e diz o que deseja para transformar o país. Depois, esse material é supostamente divulgado no site. A página pede ainda que o eleitor use, nas redes sociais, a hashtag #QueroMeuBrasil.

Sobre as propostas, a página do candidato do PSDB traz as diretrizes de governo de Aécio Neves de uma forma mais resumida, acessível e atraente que no site de Dilma Rousseff, mas com o custo da superficialidade. As propostas para a saúde, por exemplo, são resumidas em apenas três linhas. Também como no site de Dilma, o cidadão pode enviar a sua ideia para o programa, mas por meio de um link que se transforma em um email, sem que o usuário saiba qualquer coisa sobre qual será o uso ou o efeito da mensagem na campanha ou no programa de governo. Além disso, é também preciso ir até o pé da página para cadastrar um email e receber as atualizações.

O site de Eduardo Campos vem com Marina Silva a reboque desde o endereço: www.eduardoemarina40.com.br. Nesse caso, ao menos, o cadastro do email é simples e está logo no alto. Além disso, o site diz que em breve estará disponível o mecanismo de doação online, por meio do qual Barack Obama revolucionou as campanhas nos Estados Unidos em 2008. Fora isso, a página segue o padrão: apresenta um blog para cada um dos cabeças da chapa, a agenda da campanha, as biografias de ambos e as diretrizes de governo, isto é: "Os cinco eixos do Programa de Governo".

É bem verdade que tudo está só começando e há outros sites e ferramentas de redes sociais que também estão sendo usados ou ainda serão utilizados pelas campanhas. Além disso, campanhas não estão preocupadas em aprimorar o regime democratico, mas vencer eleições. Mesmo assim, no que cabe a uma análise mais apurada e no que diz respeito a possíveis contribuições no uso da Internet para a democracia, os sites dos três principais candidatos deixam muito a desejar.

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