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  • Arthur Ituassu

Marketing ou participação?


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Candidato Lindberg Farias (PT) lança website para debater com cidadão programa de governo para o estado do Rio de Janeiro.
A campanha do senador Lindberg Farias (PT) ao governo

do estado do Rio de Janeiro colocou no ar o site Rio Participativo. O objetivo, segundo afirma-se na própria página, é incentivar "a participação direta da população

na construção do programa de governo", estimular "a discussão e o diagnóstico dos problemas que afetam as diferentes áreas do estado" e fomentar "o debate sobre os diversos conteúdos que integram o Programa Participativo, realizando encontros com especialistas para refletir e propor ações para o nosso estado".

A iniciativa, louvável, segue uma experiência desenvolvida pela campanha de José Serra nas eleições de 2010 – o Proposta Serra – e está relacionada às potencialidades que os recursos da Web apresentam no sentido de incrementar a participação cidadã nas campanhas e na política, como é o caso, por exemplo, do conhecido Gabinete Digital, do governo do Rio Grande do Sul. Com viés republicano, os participacinistas defendem o fortalecimento da cidadania – a inscrição fundamental da comunidade política – de modo que a dimensão civil da sociedade recupere e/ou assegure o controle sobre o Estado, entendido como res publica (coisa pública).

Entretanto, muitas vezes iniciativas colaborativas deste tipo escondem de fato estratégias de marketing, convencimento e engajamento na campanha. Um estudo de Camilo Aggio, por exemplo, pesquisador no Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital, na Universidade Federal da Bahia, mostra que, ao menos no que diz respeito a 4 fóruns temáticos analisados, muito pouco das sugestões feitas no Proposta Serra foram realmente incorporadas ao programa de governo do candidato.

Como o autor afirma na pesquisa, o programa de governo colaborativo de José Serra conteve 280 páginas e o documento foi divido em áreas e sub-áreas temáticas contemplando diversos setores concernentes à administração do Estado. Nesse contexto, os tópicos Agricultura e Afrobrasileiros foram esmiuçados com o intuito de encontrar correspondências entre as propostas dos quatro fóruns analisados para os dois temas e as propostas sacramentadas no documento final do projeto.

Sobre o primeiro tema, Agricultura, das 27 propostas identificadas nos dois fóruns de debate, apenas 1/3 foi contemplada pelo plano de governo colaborativo do Proposta Serra. No que diz respeito às questões relativas aos Afrodescendentes, que se encontrava no tópico 11, intitulado “Igualdade Racial”, a seção foi composta por 10 propostas, sendo que apenas uma, das oito proposições identificadas nos dois fóruns analisados, foi contemplada parcialmente.

Dessa forma, é preciso cultivar um certo ceticismo com relação a esse tipo de inciativa, em especial quando não se trata de um plano contínuo de trabalho, mas apenas uma experiência eleitoral. Além disso, alguns elementos no site Rio Participativo não parecem claros. Há muito pouca ou quase nenhuma informação sobre como devem se desenvolver os debates ou quais são os procedimentos que o cidadão deve seguir no intuito de colaborar. Da mesma forma, o site afirma que as contribuições serão "analisadas e incorporadas", sem detalhar como ou quando isso será feito.

A página também oferece uma seção chamada de "Blog", cujo intuito seria espacializar a "discussão sobre o diagnóstico de cada setor ou território". Além de apresentar objetivos pouco claros, quando se clica na seção o que se vê, pelo menos por enquanto, são textos curtos e promocionais de posicionamento em polêmicas políticas contemporâneas. Da mesma forma, a outra seção, chamada de "Bate-Papo", diz que "toda semana" haverá "um bate-papo ao vivo sobre diversos temas relacionados ao Programa Participativo". No entanto, ao menos até agora, não explica de que forma isso será feito e nem mesmo com quem o cidadão poderá conversar.

Ou seja, inciativas como a do Rio Participativo são louváveis e muito bem-vindas, na intenção de despertar o cidadão para discutir os temas comuns da sua comunidade política. Entretanto, se não desenvolvidas com cuidado e clareza, podem passar a imagem de que o intuito mesmo, em vez de ouvir, é somente o de falar e engajar.

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