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  • Arthur Ituassu

Marielle: 4 pontos e 2 contextos


A execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), na noite de 14 de março, e a comoção subsequente que foi vista na cidade e no país, com manifestações internacionais, inclusive, podem ser interpretadas a partir de quatro pontos e dois contextos essenciais.

O primeiro ponto diz respeito à questão institucional. Uma vereadora eleita com 45 mil votos ser executada a tiros em uma grande capital traz um grande questionamento sobre o estado da nossa democracia e sobre a nossa própria capacidade de viver em liberdade. É importante ressaltar que a execução da vereadora não parece mais um crime fruto da violência urbana no Rio de Janeiro, mas algo premeditado, levado à frente de modo profissional, com características marcantes de um crime político, isto é, a vereadora foi alvo de execução por causa da sua atuação política, marcada pela defesa aos direitos humanos.

O segundo ponto é social. A execução da vereadora aponta contra à ideia de livre ascensão social, quando uma pessoa oriunda da Favela da Maré, que fez pré-vestibular comunitário, entrou para uma universidade prestigiada com bolsa integral, fez mestrado e se tornou vereadora, acaba executada com tiros na cabeça.

O terceiro ponto é racial. Não se trata de uma pessoa somente, mas de uma pessoa negra, com uma atuação inteiramente informada pelo fato de ser também mulher negra.

O quarto ponto refere-se às questões de gênero. Marielle era lésbica, bissexual e defendia as causas LGBT.

Com isso, os argumentos que afirmam não interessar o fato de Marielle ser mulher, negra, lésbica parecem totalmente sem sustentação. Sua atuação, pela qual foi executada a tiros, era essencialmente informada pelo fato de ser mulher, negra, da favela e lésbica.

Para completar a tragédia, Marielle não foi assassinada em um momento qualquer, mas em meio a um contexto de uma intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, destruído pelas gestões MDB no estado. O acinte de cometer um crime desses em plena intervenção parece suscitar fortemente a ideia de que a intenção era essa mesma: cometer um crime desses em plena intervenção.

Por fim, Marielle também foi executada em meio ao avanço recente da extrema-direita no Brasil, onde abundam posições como "bandido bom é bandido morto", onde chacinas perpetradas pela polícia ou pelas milícias nas comunidades mais pobres são comemoradas como avanço social, por aqueles que agora a acusam de "defensora dos bandidos".


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